No amor, como em tudo, existe um tempo e um espaço. O que não há somos nós; que à conta de desvirtuosa insanidade, perdemos essas formas e boiamos à deriva, amarrados ao sentimento. Deixamos, portanto, de estar enquadrados ou contextualizados, porque o que faz sentido é só ele, o amor.
Esse egoísta açambarca-vidas, quando nos desaperta, consegue ser impiedoso. Mostra-nos em dobro, o que devemos ao tempo e ao espaço. Foram dez anos, foi há 7 meses, foi em casa dele, na Primavera, no cortejo, o primeiro restaurante, a última ida ao cinema… Cobra-nos em memória.
O amor é tão somente um não-espaço e um não-tempo, que nos governa. Nós comemos amor, porque é tão mais fácil viver com um sentido involuntário. Com O sentido. Olvidando que na quebra da desilusão, se faça doer absurdamente. Esperando nunca ter de saber das barras do tempo e do cabresto do espaço. Mesmo assim, e porque o Homem é artista: é melhor que tenha O sentido, mesmo que ameaçado, do que viver altamente coordenado por sentido nenhum.
Vale mais viver em amor, então.