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Num volte-face, quando eu puder, viro menina-mulher.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Eu e Tu 60's...



"I've had nothing but sorrow
Since you said we were through
There's no hope for tomorrow
How's the world treating you?"



  "Então e qual é o teu plano?" - E sorriu, olhando o céu, certo da malandrice que forrava a questão. Domingo de passeio, Domingo de anseio, Domingo de desejo. Era bom sentir-lhe o peso da cabeça no peito, em cada trago de ar... O plano era só um, o plano é sempre só um. O plano, o tal único, era ele voltar vivo das quezílias ultramarinas. Ela seria um exemplo de perseverança e fé; os filhos seriam três mais um, caso ela concordasse em ter uma menina mais; a casa seria grande e clara, abeirando o mar. 
  "Que plano?" - Falsa desentendida. Desiludida. Tal e qual os garotos, quando compreendem que a festa terminou. 
   "Menina..." 
   Ela interrompe-o:"Não quero falar nisso."
   "Sabes que está para breve. Devíamos falar."
  "Não vejo que faça diferença." Levantou-se incomodada. Sacudiu a roupa marcada da grama e andou uns metros para diante. Esticou o braço ao tronco de uma árvore e de costas continuou: "Tu vais, tu vens. Não tem de haver mais conversa. É mais fácil que não haja, por agora." Ele levantou-se sem fazer barulho, chegou-se e derrubou-a, em jeito de brincadeira.  Rebolaram um no riso do outro. Guimarães iluminou-se. A saia da gaiata ficou menos branca. Sentia-se cheiro a erva molhada.


"Every sweet thing that mattered
Has been broken in two
All my dreams have been shattered
How's the world treating you?"

    
   Depois no Cais de Alcântara, no antigo passadiço:
   "Escreves-me?"
   "Não."
   "Porquê?!"
   "Porque enquanto não voltares estarei irremediavelmente chateada." 
   "Vou ter de ir. Adoro-te." Afagou-lhe o cabelo.

   "Faço tão mais do que adorar-te." - Pensou ela. E uma lasca estalou-lhe o coração. 


"Got no plans for next Sunday
Got no plans for today
Every day is blue Monday
Every day you're away"


  "16 de Julho, 1962
  
  Ninguém poderá calcular a saudade que sinto, meu Bem, ninguém poderá saber. Gosto de ti mais do que entendia. Gosto ainda mais do que supus ser possível gostar-se. Está sempre de chuva, aqui... O Niassa está aportado e sinto uma vontade estúpida de arriscar um embarque. Sou fraca rebelde, infelizmente... Preciso tanto saber de ti. Preciso-nos."


"And I'm asking you darling
How's the world treating you?"


   Pousou o prato que tinha acabado de limpar na banca mais a toalha, espiou a janela demoradamente e soltou-lhe a cortina soalheira. Passou o corredor até à sala, ajeitou o cabelo ao espelho, por cima do aparador, endireitou as fotografias do tampo. Afastou a agulha, tirou o disco e guardou-o. 



Espero que voltes.
Não tem de haver mais conversa. É mais fácil que não haja, por agora.